Na maior parte dos casos, esses assistentes virtuais representam menos perigo aos empregados de uma central de atendimento do que aqueles velhos dispositivos de URA.
Os alarmistas de plantão já profetizam um desemprego catastrófico devido à iminente ocupação de postos de trabalho pelos bots e, talvez, até mesmo a sua apropriação dos mecanismos secretos de manipulação e controle das massas, seja lá o que entendam por isso.
Mas se é verdade que há bots sendo produzidos e reproduzidos em velocidade viral para as mais variadas tarefas, o fato é que ainda é incipiente a aplicação realmente “inteligente” deste novo modelo de robótica. Aliás, cabe aqui o parenteses: se tem uma área em que os bots prosperam e ajudam a prosperar (para o mal de quase todos nós, e deleite de alguns) é na automação das ações hackers, seja atuando como botnets, spam bots, mineradores de dados clandestinos, atacantes DDos e serviços maliciosos em geral.
É bem possível que os bots, e mais precisamente os chatbots, já comecem a ganhar, por exemplo, posições em funções de atendimento e pré-atendimento excessivamente elementares e repetitivas que, até bem pouco tempo, eram realizadas por humanos. Fala-se até de sua inserção efetiva nos meandros da Internet das Coisas, onde uma arquitetura emergente “bot to bot” poderia levar a automação a níveis de fato assombrosos.
Mas, se analisarmos friamente, veremos que, na maior parte dos casos, esses tais assistentes sintáticos — e fonéticos, quando aplicados a interfaces de voz — representam menos perigo aos empregados de uma central de atendimento do que àqueles velhos dispositivos de URA, nos quais um obsoleto sistema de menus exige a atenção máxima do usuário e a sua quase escravização como um operador de teclado.
Estes sim, sistemas desajeitados, caros e ineficientes, podem pôr as barbas de molho e se conformar com a sentença de que sua missão aqui na terra está cumprida. Seja como for, há bots em profusão e eles aderem cada vez mais aos sites de mensagens, negócios, jogos e serviços. E sua expansão vai sendo rápida, principalmente em serviços de mensagens instantâneas e de transmissão de diálogos (IRC), não só em função da nova onda de se priorizar, na aplicação, a qualidade da experiência do usuário final, mas também devido a um esforço descomunal dos grandes players da nuvem em popularizar o modelo.
São inúmeras as iniciativas de facilitadores de acompanhantes de vários tipos, como o Cortana, da Microsoft, Alexa, da Amazon, o Siri, da Apple, e o Google Home, todos confluindo para a intenção de oferecer um mecanismo fácil de assimilar e componentes pré-fabricados de código para a rápida criação de bots voltados para toda a sorte de tarefas.
Mas o alvo, nessa fase inicial, na média, ainda está longe das pretensões máximas de um programa como o Watson, lançado em 2011 pela IBM, cuja ambição seria a de massificar a inteligência artificial e capacitar milhares de programadores (profissionais ou até amadores) para a criação de apps cognitivos usados em aplicações que vão do diagnóstico e tratamento do câncer à redução da latência em decisões de trading.
Como mencionei acima, os bots atuais, tecnicamente falando, ainda estão mais focados em interações baseadas em menus (mais ou menos sofisticados) ou em universos probabilísticos limitados, ainda que por vezes bem extensos. É claro, eles têm a fantástica capacidade de processar e correlacionar registros e vínculos de interação – em escala até de terabytes por segundo — e de, portanto, prognosticar o desfecho de uma ação que ainda está apenas se esboçando.
E isso não é nada desprezível e conduz, na prática, ao surgimento de uma admirável robótica adaptativa. Mas não chega a se constituir, ainda, numa inteligência intuitiva de fato, à maneira da que ocorre no intelecto.
Com o fabuloso avanço e constante compactação da capacidade analítica aplicada aos softwares e ao processamento complexo de grandes lotes de dados assíncronos, haverá, em algum momento, a eclosão de um verdadeiro boom de aplicações cognitivas e, aí sim, tendendo a ameaçar seriamente certas áreas de atuação até então exclusivas do cérebro natural.
Mas a tendência é que, nesse contexto, o cérebro se valha dos próprios bots em favor da geração de insights em profundidade, alcance e velocidade exponencialmente maiores. E, dessa forma, promova a expansão e a criação de novos ambientes e formas de interação e trabalho muito mais sofisticados do que aqueles que, então, já estarão a cargo dos bots.
Fonte: Computer World