Quão grande é o problema e o que pode e deve ser feito para que a veiculação de informações falsas não prejudique pessoas, instituições e países.
As discussões sobre até que ponto as notícias falsas postadas no Facebook e no Google contribuíram para a eleição de Donald Trump para presidência dos Estados Unidos ainda reverberam nas redes sociais. Mas, agora, uma outra questão vem sendo levantada: O que o Google e o Facebook planejam fazer a respeito?
O exemplos de notícias falsas postadas na web foram inúmeros. Mas os que ganharam destaque foram as seguintes:
- “Papa Francisco apoia Trump”
- “Donald Trump vence no colégio eleitoral e no voto popular”
- “Fundação Clinton comprou US$ 137 milhões em armas e munições ilegais”
Todas estas manchetes são de notícias falsas que circularam no Facebook e no Google nos últimos meses. O conteúdo, apesar de enganoso, não impediu que centenas de milhares ou milhões de usuários das redes sociais tecessem comentários, compartilhassem e até mesmo ampliassem essas versões. Ou seja, com essas histórias, a verdade estava fora de questão. Espalhar as notícias falsas era o ponto.
“Os americanos obtêm a maioria de suas notícias fora de ambos os sites”, disse Patrick Moorhead, analista da Moor Insights & Strategy. “Creio que os leitores, o Facebook e o Google desempenham um papel importante em levar isso a bom termo”.
Para tentar entender até que ponto notícias falsas afetam a opinião e as ações dos usuários de redes sociais sobre os acontecimentos no mundo e o que está sendo feito sobre isso, a seguir, abordamos cinco pontos que podem trazer luz às discussões.
1. Qual é o tamanho do problema?
Não há números claros sobre quantas notícias falsas foram postadas no Facebook e no Google durante a eleição presidencial nos EUA. Nem há números sobre a quantidade de notícias falsas que apareceram nesses sites durante todo o ano. Também não se sabe o que torna uma notícia falsa.
Veja, por exemplo, a história totalmente falsa, inventada durante o processo eleitoral, que dizia que o papa havia apoiado o então candidato republicano Donald Trump para presidente. Mas o papa não endossou Trump. Então, é uma história que tem uma omissão ou um erro?
“Penso que até que comecemos a definir o assunto mais claramente, ele está aberto a uma variedade de interpretações”, disse Brian Blau, analista do Gartner. “Os usuários querem confiar não apenas nos provedores, mas também no conteúdo que consomem, e dada a falta de controles refinados, temos que assumir que alguma quantidade de notícias falsas será lida como confiável, o que não é uma boa situação para ninguém.”
A maioria concorda que para ser considerada falsa, uma notícia precisa ser em grande parte falsa ou totalmente falsa. A esse respeito, Mark Zuckerberg, CEO e cofundador do Facebook, disse em meados de novembro que a maioria das histórias que aparecem nos feeds de notícias dos usuários são partes de notícias reais, minimizando o efeito que as notícias falsas postadas no Facebook têm sobre os mais de 1,18 bilhão de usuários ativos diários da rede social.
“De todo o conteúdo do Facebook, mais de 99% do que as pessoas veem é autêntico”, escreveu Zuckerberg em sua página pessoal no Facebook. “Somente uma quantidade muito pequena é notícia falsa e hoaxes. Os hoaxes não são limitados a uma posição partidária, nem mesmo à política. Isso significa que é extremamente improvável que hoaxes tenham mudado o resultado desta eleição, em um sentido ou em outro.”
Hoaxes são aqueles conteúdos falsos no Facebook que incluem links maliciosos como “clique aqui para ganhar o novo iPhone 6” ou deliberadamente falsos como “homem vê dinossauro em parque de Nova York”.
Se Zuckerberg estiver certo e 99% das histórias no Facebook forem precisas, isso significa que 1% são falsas? Nesse caso, então, se um usuário visualiza 500 manchetes de notícias em seu feed de notícias todas as semanas, cinco delas são falsas. E se essas notícias falsas propositadamente tiverem manchetes obscenas, será que esse índice de 1% podem ser considerado normalmente?
Adicione a isso o fato de que o Facebook usa algoritmos para mostrar aos leitores histórias que normalmente eles respondem, leem e compartilham. Então, alguns usuários podem estar vendo uma porcentagem muito maior de notícias falsas.
2. Qual é o efeito das notícias falsas?
De acordo com um levantamento do Pew Research Center com 1.520 adultos americanos, realizado entre 7 de março e 4 de abril deste ano, 68% deles são usuários do Facebook. Além disso, a maioria diz que recebe notícias via mídia social, e metade desse público usou redes sociais para aprender sobre a eleição presidencial de 2016.
O Washington Post foi direto à fonte, entrevistando um falso escritor de notícias. De acordo com a reportagem do Post, o falso escritor de notícias é Paul Horner, que está levando o crédito pela vitória de Trump. Ele disse recentemente: “Acho que Trump está na Casa Branca por minha causa. Seus seguidores não verificam nada — eles postam tudo, acreditam em qualquer coisa… Seu coordenador de campanha postou minha história sobre um manifestante que teria recebido US$ 3,5 mil como fato”.
A repercussão e as críticas foram de tal ordem que, no último fim de semana, Zuckerberg disse em um blog que o Facebook está trabalhando com organizações de verificação de fatos para checar a autenticidade das notícias em seu site.
Portanto, não está claro até o momento quantas notícias falsas contribuíram para o resultado da eleição. Alguns afirmam que ajudaram Trump a obter a vitória. Outros discordam. O que está claro é que as pessoas leem essas notícias, comentam, gostam ou ficam zangadas com elas. Eles também compartilham esse conteúdo com seus amigos e familiares. E houve várias notícias durante a eleição, cheias de mentiras e propaganda, e algumas pessoas escolheram acreditar nelas.
3. Como o Google se encaixa em tudo isso?
Histórias de notícias falsas não são apenas um problema do Facebook. Google está atolado até os joelhos com essa questão, também. Uma notícia dizendo que Trump venceria a candidata democrata Hillary Clinton no voto popular, bem como no colégio eleitoral, chegou ao topo do Google News nos dias que se seguiram à eleição. Era uma notícia falsa, como se verificou. Clinton ganhou o voto popular, mas Trump garantiu os 270 votos do colégio necessários para ganhar a presidência.
Quando as pessoas querem saber algo, geralmente se voltam para o Google. Quer saber qual candidato ganhou no estado de Utah ou na Virgínia? Google nele. Quer saber se o papa apoiou um candidato? Google nele.
Se notícias falsas estão aparecendo em pesquisas e no Google News, o fato é que a desinformação está sendo propagada.
4. Por que as notícias falsas não podem ser erradicadas?
Há uma série de questões em relação a isso. Os usuários querem que empresas como o Facebook e o Google decidam o que é verdade ou não? Por exemplo, é uma notícia falsa se apenas um dado está incorreto ou é uma notícia falsa se toda a premissa está errada? Como um algoritmo distingue a diferença? Além disso, os usuários querem que o Facebook, por exemplo, decida o que eles podem e não podem compartilhar com seus amigos?
“Os problemas aqui são complexos, tanto técnica quanto filosoficamente”, escreveu Zuckerberg no post do fim de semana. “Precisamos ter cuidado para não desencorajar o compartilhamento de opiniões ou restringir de forma equivocada um conteúdo preciso. Não queremos ser árbitros da verdade, mas sim confiar em nossa comunidade e em terceiros confiáveis.”
Quanto a quem toma a decisão final sobre o que é falso e o que é uma notícia real, será uma equipe formada por humanos ou máquinas? Algoritmos serão usados ??para detectar os infratores ??e identificá-los para uma inspeção adicional? Nesse caso, os seres humanos provavelmente tomariam as decisões finais.
Para fazer isso, os algoritmos precisarão ser atualizados, tornando-se mais sofisticados e ser rigorosamente testados antes de serem usados no Facebook e no Google.
5. O que está sendo feito para cancelar notícias falsas dos feeds de notícias e dos resultados de buscas?
Embora o Google não tenha respondido a um pedido entrevista, a Reuters informou que o Google, apesar de não tratar da questão das notícias falsas, está trabalhando para mudar suas políticas para que os sites que veiculam conteúdo falso não sejam capazes de usar sua ferramenta de publicidade Adsense. A ideia do Google é cortar muitos dos benefícios financeiros de sites que criação e veiculam notícias falsas.
Quanto ao Facebook, Zuckerberg disse que a empresa está trabalhando em uma série de mudanças para que, espera ele, reduzir a quantidade de notícias falsas na rede social. Em seu post no Facebook de fim de semana, ele observou que a empresa está trabalhando para tornar mais fácil para os usuários relatarem a existência de notícias falsas; marcar as que foram sinalizadas como falsas com avisos; mudar as políticas de publicidade para tornar mais difícil ganhar dinheiro com notícias falsas e desenvolver tecnologia para detectar melhor essas notícias.
Jeff Kagan, um analista independente da indústria, disse que a inteligência artificial e a aprendizagem de máquina eventualmente farão parte da solução para notícias falsas, analisando artigos muito mais rapidamente e mais eficientemente do que os seres humanos são capazes. Mas ele não tem ideia de quando a tecnologia estará disponível para fazer isso. “Estou certo de que a aprendizagem de máquina é parte da solução, mas [essas tecnologias] ainda estão em sua infância”, disse ele “A solução é complicada”, completou.
Fonte: ComputerWorld